Osenhor das moscas td começa com um bando de garotos que após um acidente, acabam por ficar presos numa ilha deserta. você é capaz de entender que está acontecendo uma guerra - no primeiro capítulo, há uma menção breve à bomba atômica ("você não ouviu o que o piloto disse? sobre a bomba atômica? estão todos mortos.") - os garotos, de idades entre seis e doze anos, estavam provavelmente sendo transportados para algum lugar em que ficassem seguros, mas o avião teve uma pane, ou foi bombardeado, caiu na ilha e todos os adultos morreram, só sobrando os trinta meninos.
os garotos têm de se virar sozinhos e, num primeiro momento, tudo é uma festa: sem supervisão de adultos, numa pequena ilha que é toda deles para explorar, com frutas e água os dias são passados mergulhando em piscinas naturais, construindo castelos de areia e simplesmente aproveitando a liberdade que como jovens e respeitáveis futuros cavalheiros ingleses, eles não estão acostumados a ter.três personagens se destacam a princípio: ralph, que será votado líder do bando; porquinho, um menino gordo, que sofre de asma e usa óculos e jack, o líder do coral. cada um deles é representante de uma faceta humana. porquinho, de quem nunca chegamos a saber o nome e é vítima constante de bullying de todos os outros personagens, representa a cultura, a inteligência, a civilização - é ele quem se preocupa com as questões práticas, como a necessidade de construção de abrigos. ralph é um líder nato e desde o primeiro instante se destaca por seu carisma- os outros o seguem naturalmente, sem questionamentos.jack, por sua vez,é o poder, a força, e a selvageria. embora se submeta de início ao carisma de ralph, pouco a pouco ele vai se libertando de sua camada de 'civilização' e se tornando cada vez mais violento, mais selvagem.
a princípio, eles conseguem manter uma espécie de ordem, um ranço de civilização. mas logo a coisa começa a se degenerar e, naquele confinamento forçado, a idéia de individualidade, de razão dilui-se na figura do monstro na floresta, na caça aos porcos, no clamor pelo sangue.nessa sociedade primitiva que os garotos começam, há duas regras essenciais: manter a fogueira sobre o monte mais alto da ilha, para assegurar a possibilidade de que sejam vistos e resgatados e em suas reuniões de organização, esperar pela posse da concha, que representa sua vez de falar.
não demora para que as duas regras sejam quebradas - e quando a fogueira apaga exatamente quando um navio está passando, pq jack comandou os gêmeos q estavam guardando o fogo para participar da caçada aos porcos selvagens, então está pronto o palco para a implantação do caos.
a desintegração dessa tentativa noção de ordem é ainda mais opressiva porque ocorre no exato momento em que ralph se dá conta da importância que ela tem - e é terrível ver como as coisas terminam após a reunião noturna.a intenção de ralph é fazer os outros verem a necessidade de cuidar do fogo, porque essa é sua única chance de retorno à civilização. n demora, contudo, para que suas palavras sejam esquecidas e todas as mentes se voltem para o medo da besta - algum tipo de criatura que os pequenos insistem já ter visto. a razão dá lugar ao medo - monstros, fantasmas - e isso fortalece jack, q canta enquanto sangra o porco que sacrificou.e nessa cacofonia de selvageria, os únicos que tentam se sobrepôr são porquinho ("o que somos? humanos? ou animais? ou selvagens? "), simon (simon não conseguiu falar, no seu esforço de exprimir o mal essencial da humanidade) e o próprio ralph. dos três, ralph é o único que é ouvido - ninguém respeita porquinho, com sua gordura, sua miopia e sua asma e simon é tímido demais para fazer frente aos outros. mas ralph não é o suficiente diante da força de jack - o poder que lhe é concedido por ter sido aquele capaz de matar, aquele que degolou o porco - fará dele mais tarde n apenas o provedor de carne, mas também assassino e deus.é assustador. não apenas pela situação que se desenha ao longo do romance - em que a individualidade cada vez mais dá lugar à turba irracional, ordem e lei são substituídas por sangue e sadismo - mas pelas perguntas que ela evocam. a situação em que os meninos se encontram é exatamente aquela de que hobbes fala em seu o leviatã: o estado natural do homem é a guerra uma vez que não existe um governo que estabeleça ordem. nesse sentido, sendo todos os homens iguais em seu egoísmo, a ação de um só encontra limite pela força do outro - o homem é o lobo do próprio homem e é por isso que abrimos mão de parte de nossas liberdades para que possamos ter um governo que nos ajude sobreviver a nós mesmos.