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Português, 10.10.2022 06:55 wanessa3813

As Cocadas Eu devia ter nesse tempo dez anos. Era menina prestimosa e trabalhadeira à moda do tempo. Tinha ajudado a fazer aquela cocada. Tinha areado o tacho de cobre e ralado o coco. Acompanhei rente à fornalha todo o serviço, desde a escumação da calda até a apuração do ponto. Vi quando foi batida e estendida na tábua, vi quando foi cortada em losangos. Saiu uma cocada morena, de ponto brando atravessada de paus de canela cheirosa. O coco era gordo, carnudo e leitoso, o doce ficou excelente. Minha prima me deu duas cocadas e guardou tudo mais numa terrina grande, funda e de tampa pesada. Botou no alto da prateleira. Duas cocadas só... Eu esperava quatro e comeria de uma assentada oito, dez, mesmo. Dias seguidos namorei aquela terrina, inacessível. De noite, sonhava com as cocadas. De dia as cocadas dançavam pequenas piruetas na minha frente. Sempre eu estava por ali perto, ajudando nas quitandas, esperando, aguando e de olho na terrina Batia os ovos, segurava gamela, untava as formas, arrumava nas assadeiras, entregava na boca do forno e socava cascas no pesado almofariz de bronze. Estávamos nessa lida e minha prima precisou de uma vasilha para bater um pão-de-ló. Tudo ocupado. Entrou na copa e desceu a terrina, botou em cima da mesa, deslembrada do seu conteúdo. Levantou a tampa e só fez: H... Apanhou um papel pardo sujo, estendeu no chão, no canto da varanda e despejou de uma vez a terrina. As cocadas moreninhas, de ponto brando, atravessadas aqui e ali de paus de canela e feitas de coco leitoso e carnudo guardadas ainda mornas e esquecidas, tinham se recoberto de uma penugem cinzenta, macia e aveludada de bolor. Aí minha prima chamou o cachorro: Trovador... Trovador... e veio o Trovador, um perdigueiro de meu tio, lerdo, preguiçoso, nutrido, abanando a cauda. Farejou os doces sem interesse e passou a lamber, assim de lado, com o maior pouco caso. Eu olhando com uma vontade louca de avançar nas cocadas. Até hoje, quando me lembro disso, sinto dentro de mim uma revolta – má e dolorida - de não ter enfrentado decidida, resoluta, malcriada e cínica, aqueles adultos negligentes e partilhado das cocadas bolorentas com o cachorro. Cora Coralina VOCABULÁRIO: Prestimoso: que ajuda de boa vontade. Areado: esfregado ou limpo com areia ou outro material. Terrina: Vasilha de louça ou metal, normalmente com tampa. Gamela: Vasilha de madeira ou de barro usada na preparação de alimentos. Almofariz: pilão. Resoluta: decidida, corajosa. Segundo o texto, quando a autora começa a falar das cocadas ela diz “Tinha ajudado a fazer aquela cocada”. OBSERVE o uso do pronome “aquela” para referir-se à cocada, apesar de ela não ter sido mencionada antes. EXPLIQUE a intenção da autora nesse caso.

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Português, 15.08.2019 00:56
Qual é a semelhança e a diferença entre um bilhete e uma carta? (3 linhas)
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Português, 15.08.2019 00:51
Pergunta sobre a pagina 336 a 365 do livro de português 9ano asociedade daquela epoca ae dw hoje vê a escolha por uma esposa do pomto de vista de simao bacamarte ou do pomto de vista do tio dele em sua opinião, porque isso acom
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Português, 15.08.2019 00:36
Três exemplos de conotação e denotação frases do poema amor é fogo que arde sem se ver​
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Português, 15.08.2019 00:00
Eu preciso de uma música atual que tenha elementos semelhantes ao do poema de gonçalves dias: seus olhos. vou colocar o poema abaixo: (obs: é urgente! ) seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, de vivo luzir, estrelas incertas, que as águas dormentes do mar vão ferir; seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, têm meiga expressão, mais doce que a brisa, — mais doce que o nauta de noite cantando, — mais doce que a frauta quebrando a solidão, seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, de vivo luzir, são meigos infantes, gentis, engraçados brincando a sorrir. são meigos infantes, brincando, saltando em jogo infantil, inquietos, travessos; — causando tormento, com beijos nos pagam a dor de um momento, com modo gentil. seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, assim é que são; às vezes luzindo, serenos, tranqüilos, às vezes vulcão! às vezes, oh! sim, derramam tão fraco, tão frouxo brilhar, que a mim me parece que o ar lhes falece, e os olhos tão meigos, que o pranto humedece me fazem chorar. assim lindo infante, que dorme tranqüilo, desperta a chorar; e mudo e sisudo, cismando mil coisas, não pensa — a pensar. nas almas tão puras da virgem, do infante, às vezes do céu cai doce harmonia duma harpa celeste, um vago desejo; e a mente se veste de pranto co'um véu. quer sejam saudades, quer sejam desejos da pátria melhor; eu amo seus olhos que choram em causa um pranto sem dor. eu amo seus olhos tão negros, tão puros, de vivo fulgor; seus olhos que exprimem tão doce harmonia, que falam de amores com tanta poesia, com tanto pudor. seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, assim é que são; eu amo esses olhos que falam de amores com tanta paixão.
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Você sabe a resposta certa?
As Cocadas Eu devia ter nesse tempo dez anos. Era menina prestimosa e trabalhadeira à moda do tempo....
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