"macunaíma" é um dos livros mais importantes da literatura brasileira, por várias razões: as rupturas narrativas de tempo, espaço e composição de personagem; a ruptura lingüística, que mistura o culto e o popular, o urbano e o regional, o escrito e o oral, contribuindo para o estabelecimento de uma "fala brasileira"; a importância da narrativa como personagem propriamente, já que o texto se assume como um relato e o narrador como seu relator; a personagem, herói sem nenhum caráter, que se situa além do bem e do mal; o significado geral da obra, que sintetiza uma reflexão crítica sobre a personalidade do homem brasileiro. e poderíamos citar muitos outros motivos. o fato é que macunaíma se inscreveu como parte de nossa cultura, incitando polêmicas e desdobramentos em todas as gerações subseqüentes, mas sobretudo muita surpresa e prazer.
assim como macunaíma, seu autor, mário de andrade (1893-1945), também é fundamental para a compreensão da singularidade do modernismo brasileiro e das manifestações que viriam sucedê-lo. mário foi um dos idealizadores da semana de arte moderna, criador de várias obras importantes, como amar, verbo intransitivo, lira paulistana, contos novos e clã do jabuti; um garimpeiro da cultura popular e do folclore; músico e professor; autor de uma correspondência criativa e crítica sobre a literatura, a música e a cultura brasileiras; crítico da própria obra e do modernismo em geral.
com tantas grandezas envolvidas, tanto da obra como do autor, seria mesmo difícil compreendê-los inteiramente num espaço pequeno como o deste livro, que deve ser visto como uma iniciação à leitura de macunaíma, ou um auxílio para sua compreensão e interpretação. por tratar-se de uma obra com muitas referências externas, é importante contar com um suporte para a jornada de nosso herói sem caráter. mas não é o caso, de forma alguma, de substituir a fantástica viagem macunaímica por algum outro texto. o dinamismo, o humor, as contradições, o aprendizado só podem acontecer a partir da rapsódia --tudo mais é paralelo. aliás, é assim com qualquer obra ou autor. por mais que se faça uma paráfrase detalhada, com análises e interpretações, como acontece neste livro, a intenção é estimular a leitura e a discussão da obra, especialmente de uma obra tão polêmica quanto macunaíma.